Não costumo demonstrar o que sinto, e isso já virou clichê. Demonstrar é fácil, difícil é falar. E eu não faço nenhum dos dois. Demonstrar e falar dos meus sentimentos são duas coisas que não combinam com sentir. Algumas pessoas descobrem o que eu estou sentindo por si só, sem que eu precise conversar sobre tal. Outras preferem especular o que eu devo estar sentindo, e existem aquelas que nem percebem mudança no meu humor. Sorrio, conto piadas sem graça, me faço de desentendida e assim todos acreditam que está tudo bem. Confesso que não sou uma boa fingidora - se é que isso existe -, não consigo fingir meus sentimentos por muito tempo. Acabo ignorando alguém, reclamando para outro, desabafando com pessoas mais próximas, muitas vezes desmancho-me em choro na frente de alguém, demoro para me recompor, e assim o disfarce acaba e todos descobrem que o meu estado de humor não é lá um dos melhores. Não sou alguém quieta, mas quando meu humor não está bom, pode se dizer que nem abro a boca. Tento não mudar, mas não consigo. A cada dia que passa, mais difícil fica. E eu acabo me sufocando, sufocando, sufocando. Pedindo para mudar. Mudando. Sumindo. Deixando. Até que explodo de novo, e de novo, e uma parte passa. Deixando partes que não tive coragem de contar dentro de mim, fazendo parte do monte. Do ingrediente para a explosão. Deixando sentimentos mudos, que me tornam cada vez mais diferente do que eu era. E cada vez mais eu vou perdendo o meu verdadeiro eu. E cada vez mais eu vou me tornando essa pessoa fria, a vida me ensinou a ser assim. As pessoas me obrigaram a seguir o que a vida me ensinou. Mudei. Não me lembro da ultima vez que a verdadeira eu veio fazer uma visita no "hoje em dia". Não sei como fazer para voltar a ser quem um dia eu consegui ser, quem eu era. Pessoas vieram, pessoas foram, palavras vieram, eu as escutei, eu as disse, eu guardei palavras, sentimentos vieram, eu os recebi, eu guardei sentimentos. E os sentimentos mudos ficaram e me mudam a todo instante. Fria. Diferente do início. Perto do fim.